segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Solitude
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Descompasso
mascare seu rosto pálido de rouge
e entupa os poros de sua pele
com pó das cinza que restaram.
seu traje de gala, roto e gasto
o vestido negro de todo velório.
Use suas melhores jóias, falsas.
em saltos altos, a desvarios e desiluões.
Valsa de violinos vorazes, desfinados
De três em três compassos
infância, juventude, velhice
terça-feira, 9 de novembro de 2010
O Fim
Era inevitável, segurava o papel com a sentença do já esperado momento.
Não sabia onde olhar, o que pensar...seu rosto sentia o suor frio de sua mão aflita.
Lagrimas não brotavam, elas se afogaram na amargura estomacal que pulsava com um frio estonteante. Procurava olhares alheios...ela tinha os olhos vermelhos e rosto encharcado, ele atônito e duro como o mármore, o outro fugia de seu olhar como quem foge desesperadamente da gigantesca criatura negra de proporções aniquiladoras.
Sua mão tremia junto com seus pensamentos, eles percorriam o passado, e cada momento bom foi findado numa felicidade penosa e passageira.
Compreendeu que seus instantes do passado eram e foram sonhos...quis correr, gritar, abraçar a todos...tudo se resumia em uma dentada desesperada em seus lábios...como se mordesse sua existência com todas as forças que sua vontade reunia.
Olhou para cima, e abaixou novamente a cabeça, uma lagrima tingiu de transparente o papel que confirmava com ciência a finitude que fora sempre ignorada pelo inebriante sabor dos sentidos, dos caminhos percorridos.
Era o fim...e era para sempre.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Cima da linha
Vamos transformar os sonhos em fatos
Esquecer que mais cedo ou tarde ainda sonharemos
Não posso me encher de insipidez
Mas me conceber com possibilidades
Acolher como quem colhe
E me deixar levar como quem flui
Levando cerejas aos pares
Navegando os mares
Levando o que fui
As conseqüências do que serei
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Mais um Dia de Trabalho
O horário de almoço mal chegara e Miguel já deveria ter olhado para o relógio de seu escritório inúmeras vezes, trabalhar em uma cidade vizinha era muito cansativo, acordava religiosamente todos os dias antes das seis horas, só assim conseguia passar seu café e ler as principais notícias do jornal enquanto travava épicas batalhas entre sua mente e o ponteiro dos segundos de seu relógio analógico. Todavia o salário era bem melhor que qualquer outro emprego que poderia encontrar em sua cidadezinha de cinco mil habitantes, só não mudara ainda para a cidade de seu trabalho porque tinha algumas responsabilidades emocionais com sua mãe que era viúva a menos de três anos, a coitada da velha mal conseguia digerir a idéia de morar em outra cidade que não fosse a que tinha passado os melhores momentos com seu amado, sentimento que misturava amor, angústia e desespero até certo ponto, sua mãe acordava todos os dias antes mesmo de ele acordar e passava horas e horas a rezar seus terços em homenagem ao defunto, após a dedicação espiritual alheia caminhava, as manhãzinhas relembrando os principais locais de seu relacionamento que se foi, como numa necrolatria sem fim.
Não era um dia muito movimentado em seu trabalho, e além do mais ele já tinha adiantado todo o trabalho da semana na segunda e terça, porém também não podia descansar, pois seu patrão aparecia em espaços de vinte e trinta minutos na porta de seu escritório, como um cão de guarda farejando e fiscalizando algum mau investimento salarial que poderia ser cortado e substituído por algum outro, e o melhor de tudo com no mínimo trinta por cento a menos de salário nos três primeiros meses. Quinze minutos para o fim de seu expediente, já conseguia sonhar acordado com sua cama que estava a dois quarteirões de seu trabalho mais algumas horas pacientemente sentado até o ônibus chegar em sua cidade, quando num surto de tarefas do cotidiano se lembrara que hoje era dia da missa de celebração póstumas pela morte de seu pai, não entendia porque sua mãe marcara essas missas a cada quinze dias, já até pensaram em pagar um psiquiatra para a velha, essa preocupação pós morte já estava ficando doentia, porém o catecismo havia lhe educado bem e tinha consciência de sua postura espiritual, além de guardar domingos e feriados Miguel participara de quase todas as iniciativas religiosas de sua mãe, afinal de contas “a caridade bem ordenada começa por nós mesmos”.
“Graças a Deus, estou há caminho de casa”, pensara Miguel enquanto entusiasmado escolhia algum dos poucos assentos que restara do lado da janela, era só o ônibus sair da cidade que já começava a lutar contra suas pálpebras para não cair no sono, esse cochilo poderia atrapalhar seu relógio biológico e fazer-lo se atrasar para passar o café do dia seguinte, mas hoje foi um dia diferente, Miguel mal esperava pela missa, não por sua espiritualidade aflorada, mas pelo fato de Ana – uma moça que foi sua namorada até o final do ensino médio – sempre ir à missa as quintas-feiras, se ao mínimo ela soubesse quantas vezes Miguel reconstruía o diálogo que possivelmente iria iniciar ao encontrá-la. Foi em uma das curvas que, enquanto Miguel pensara se era melhor pronunciar Ana ou querida, o motorista se deparou com um carro que estava vindo contra o seu sentido, na mesma pista, Miguel não entenderia quase nada, apenas sentiu um grande frio na barriga, seguido de um grande impacto – seu corpo estilhaçando o vidro da frente do ônibus, resultado da freada brusca – e uma luz serene e límpida lhe enchia o coração de paz, era o seu fim e Deus enviaria seus anjos para lhe conduzir em direção ao paraíso, ou apenas o farol do ônibus seguido das rodas desgovernadas que, espalharam seus miolos por alguns metros do asfalto.
Samuel Bradinsky
terça-feira, 21 de setembro de 2010
O Teimoso jovem velho
Havia de imediato uma vontade subida de corrigir e comprimir todos os erros do passado em uma pequena caixa e dizer para si mesmo :”Finalmente findei minhas dividas para com minha consciência!”
Listou e fez de sua consciência ferida, o mapa para chegar a uma redenção cega e plena de cansaço, e como troco, gerar dividendos para com o tempo.
Já o tempo, fora, restava as passagens caóticas em mente e a vontade de remediar... a tarefa é digna de honrarias...mas com entranhas permeadas de vergonha.
Como chorar? E para que chorar? O consolo dele não passava de apoio para si mesmo e uma maneira de sorrir sem fios de culpa...
Ao olhar nos olhos, caia em lamentações, que por mais românticas que pareciam, careciam dessa dor...mesmo sem forças mantinha-se firme,era necessária tal agonia?
Para que? Onde chegara com isso? E se chegar? Chegara pelo menos a metade de seu ser? Estará disposto a deixar tudo para trás?
Se sim...ai esta sua sina...sangrar em seus textos até sanar as mazelas de sua maturidade vagabunda e senil...
domingo, 29 de agosto de 2010
Fractal
cava-te em tua cova
e vela seu funeral
a cada dia, passado
a poeira do tempo
escama de seu corpo
em células mortas
a vida se esfarela
prenda a respiração
e mergulhe fundo
no fractal que te faz
na molécula que se funde
em poros e aspirações
de átomos se refaz a vida
aceite a morte fatídica
que existir não é o sentido
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Quiçá
sinto um leve asco pairar sobre meu estômago
Quiçá seja a sutil verossimilhança entre a hipnopédia dos romances de Huxley
e as propagandas com seu beharviorismo tênue, promovidas pelo olho absorvente: TV
ambos tão enredados que,
me vêm a mente a transcendência do superorgânico ao primata domesticado
Quiçá esteja cometendo um grande crime praticando o duplipensar
mas que culpa tenho eu, se minha ânsia e essência se fundem ao caos?
se mesmo em minhas mais sublimes meditações, contemplando uma margem de rio
consigo perceber fractais que se recriam sempre que a areia é movida...
Quiçá até minha essência seja uma arma psicológica da policia do pensamento
quando abrem espaço para a mesma se identificar mediante a ética e a moral
Que somente a dúvida acalentaria a razão humana!
e que os homens se tornem cada vez mais cães dóceis
que se contentam com uma cama que os protegem do frio da madrugada
suas tigelas de ração diárias e seus ossos ultra-tecnológicos
Quiçá a liberdade seja um mero esboço...
Emmanuel Goldstein
sábado, 3 de julho de 2010
Masoquismo
Franco Saldaña.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
O que é isto, a racionalidade?
Já não me basta a razão em meio desse coagulo de fractais infinitos
Que espera ser dos padrões uma necessidade de libertar os instintos?
Para a corja de adoradores da santíssima razão
Me apego ao acaso, e este é um de meus maiores amigos
Quiçá na busca de proclamar algum Deus, seria o acaso o mais exuberante
Não preciso de linhas mirabolantementes re-pensadas que se confundem em sua ânsia silogística
Me contento com uma vara de pesca,
Assim consigo fisgar as palavras que me apetecem
Samuel Bradinsky
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Hiperglicemia
domingo, 7 de março de 2010
Política dos Ratos
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Automatização Coletiva
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Sanatório, Parte 1 - O Diário
Já faz treze dias desde que me enfiaram nesse buraco escroto e o ápice de todas as minhas incertezas até este momento é que sequer ao mínimo informaram sobre minhas condições patológicas. Bipolaridade ou depressão?... se bem que isso já deixou-me de ser uma preocupação, tendo em vista que nesse boeiro imundo a última coisa que atribuem valia seria no caso a sanidade, como minha consciência ficaria grata caso meu esteriótipo de "louco comedor de merda" fosse apenas uma pequena partícula de realidade nesse asilo. No dia em que eo fora despejado neste antro já ocorriam histórias de que dois dias antes da minha vinda um dos internados teria ateado fogo em algum infeliz dentro da ala C, e o pior de tudo é que ainda por vezes consigo sentir o cheiro de carne queimada quando alomoço, a única coisa que ainda tenho ânimo para fazer diante de tanta podridão é tentar manter minha mente limpa... ao máximo, e receber alta por bom comportamento ou qualquer brecha similar, só espero não me tornar semelhante a internada do 37B, que todas as manhãs arruma suas malas e se dispede de metade do asilo, alegando ter recebido alta. se ao menos eu tivesse a mísera felicidade do acaso me presentear com alguma existência sóbria, sã, em plena consciência de sí, para um diálogo... nem que seja palavras jogadas ao vento, quisera eu, as enfermeiras serem um tanto quanto mais compreensivas e que não somente tenham como intenção me ludibriar com seus medíocres discursos que se resumem em meu trabalho é apenas ter a certeza de que os medicamentos receitados desçam goela abaixo, nem as faxineiras se arriscam mais à limpar os quartos na presença de algum internado após o último incidente no qual os retardados mentais da ala F molestaram sexualmente uma de suas companheiras com o auxílio de uma faca.
O tempo parece não existir entre essas paredes, nenhuma medida a ser tomada como margem, nenhuma distração oferecida aos meus olhos para que os passos do tempo se acelerem, acaso não fosse os banhos de sol regulares, sinceramente não sei o que seria de minha percepção temporal, se bem que já fazem dias que me recuso a sair para além daquela fria e rígida maçaneta, prefiro a serenidade de meu quarto individual, com minha cama, minha cômoda e minhas paredes, tudo com um nível de branquitude ímpar, tão confortante e ensurdessedor. E pensar que ainda tentei, na primeira semana perambular pelos corredores à conversar com os internos na esperança de encontrar algum fragmento razão escondida querendo se expor, minha ânsia fora tão avassaladora que até cheguei a participar das atividades coletivas diárias, o mais estranho foi que quanto mais me aproximava dos internos, mais sentia a insanidade penetrar em minha pele, se alojar em meus poros, passar pelas minha papilas gustativas, vez ou outra até se misturará com o odor de carne queimada. Se existe um paraíso nesta desprezível colônia de férias sem sombra de dúvidas é meu quarto, isto quando algum demônio não vem roubar minhas maçãs através dos gritos abafados de algum paciente incontrolado que foi convidado a repousar por algumas horas, ou dias no quarto acolchoado.
E pensar que meus planos, em contraste com minhas atuais circunstâncias se resumem num profundo mergulho dentro de mim, já não me iludo nem com espectativas, volta e meia me encontro numa cama e o pouco que me resta dos sonhos, não me lembro mais, quisera que meu instante seja hoje algo mais que uma lacuna.
23 de Maio
João Augusto de Oliveira
domingo, 10 de janeiro de 2010
Pensar mecânico
Na rotineira ação de tomar o bonde toda manhã, acendo um cigarro por prazer solitário. Após uma longa tragada, a nicotina se instala em meus pulmões fazendo as engrenagens de minha mente girarem. A fumaça flutua em espirais pelo ar fundindo-se com meus pensamentos absortos.
Vejo o sopro de minha vida se esvair pelos meus pulmões junto da fumaça exalada. Quanto tempo de minha existência um cigarro pode me tragar? Horas, dias, meses, não sei ao certo. Quanto desse tempo vale o breve prazer de uma tragada? Com certeza mais que o tempo perdido esperando a condução. De que vale viver, carregar no dorso tantos traumas e decepções, porém resistir a tentação de desfrutar dos mínimos prazeres e alívios terrenos como uma trago de viver que bebo em uma tragada de tabaco? A morte chega, sim, carregada pelo remorso que rói os ossos. Chega tão certa quanto o ultimo trago do cigarro.
Corro os olhos ao pulso, procurando as horas. Os ponteiros petrificados. As horas dissipam-se pelo ar junto da fumaça. Perdi minha vida nas horas de trabalho não pagas pela mais-valia. A vida se perdeu pelas vielas das horas. Perdi o bonde. O tempo não existe, nunca existiu. São apenas números, medida estipulada pela espupidez megalomaníaca humana de possuir o controle sobre do imprevisível.
Enfim chega o coletivo, entupido de corpos moribundos. Magnetizado, me acoplo ao automovel como todas as peças alí presentes, que no desgaste do atrito de suas existêntias, cinéticamente são fadadas a fazer funcionar a grande máquina que as comanda.
George Samsa.