quinta-feira, 3 de março de 2011

Desaguadouro

Em filetes a água escorre por meu corpo em sua suave dança. Alongo meu braço, tento alcançá-la. Ela escorre por meus dedos, fugas em sua fluidez. Foge-me das mãos, como você, como o tempo indomável, como a vida que se esvai por min.

A água escoa para dentro do ralo, pelas entranhas escuras dos encanamentos. Escoa para dentro de meus poros, do profundo de meu ser.

Invade-me com a força da correnteza de um rio. Pulsa com intensidade da torrente da rotina em minha corrente sanguínea. Transborda em min como a chuva, me imunda com a fonte de viver.

Por esse rio de minhas veias escoa a vida em seu passar. Arrasta para a margem de minha pele todas as vivências, experiências, folhas que flutuam, pedras que rolam, dores e alegrias.

Esse rio passa com a rapidez do tempo, cavando rugas sobre o terreno arenoso de minha face. Por esses sulcos escorrem todas as lágrimas das tristezas já passadas, o suor de todo o esforço, árduo e seco da minha tez.

Passam por mim as águas. Passa por mim a vida. Esvai-se na fluidez de um riacho, hoje já sereno.

Escorre por meu corpo o ultimo filete de água, e me tira para a última dança.


Franco Saldaña.

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