terça-feira, 12 de julho de 2011

Dia após dia.

Dia após dia, a dona de casa varre o chão.
Bate os tapetes persas, espana os móveis
luta contra a sujeira de sua existência
imunda, inútil, insignificante.

Dia após dia a poeira insiste em impregnar
os vasos de porcelana com tulipas de plástico.
Ela diz que são práticas, não precisam de água
pois nesse lar não há vida para se cultivar.

Dia após dia a poeira insiste em cair ao chão.
Células mortas que escamam de um ser sem sentido.
Corpúsculos moribundos, grãos de uma ampulheta
que contam as horas do fim, a cada gão derramado.

Dia após dia a dona de casa varre o chão
colhe do túmulo seu próprio cadáver em partes.
Sementes inférteis derramadas ao assoalho
frutos podres de uma vida vazia.